quinta-feira, 17 de março de 2011

Capítulo 5 (Dia 14/01/2011) – O futuro na borra do café!

No capítulo de hoje (e em todos os outros) Jade está ansiosa pela sua situação com Lucas, e pede desesperadamente a Zoraide que leia o seu futuro na borra do café. Trata-se de uma prática cultural onde a pessoa bebe o café, e uma outra pessoa que supostamente tem o dom da adivinhação lê o resto do pó do café na xícara para vislumbrar o futuro da pessoa que bebeu.
Dentro da religião islâmica não existe crença em superstições nem em adivinhações. Muito pelo contrário, recorrer a adivinhos, magos, cartomantes e coisas do gênero, com o intuito de saber o futuro e acreditar no que lhe for dito, é algo que tira a pessoa do Islam de imediato, pois também configura uma forma de politeísmo (shirk), que é o mais grave pecado dentro do Islam, conforme mencionamos no post do capítulo 2 (veja aqui). 
Em nossa crença, o futuro pertence somente a Deus, o Único conhecedor de tudo, não só do futuro, como do presente e do passado. Buscar em alguém o conhecimento do futuro é associar esta pessoa a Deus, motivo pelo qual é considerado um grave pecado. Assim, ler o futuro na borra do café é uma prática existente em diversos países, inclusive em alguns de maioria muçulmana, mas trata-se de um traço cultural que nada tem a ver com o Islam.

Capítulo 4 (Dia 13/01/2011) – Trancada dentro do quarto até a morte! Oh meu Deus!

No capítulo 2, nosso queridíssimo Tio Ali ameaça Jade com o Alcorão na mão, dizendo que ali diz que “qualquer mulher pega em luxúria deve ser trancada em seu quarto até que a morte a atinja”, e neste 4º capítulo ele cumpre a ameaça após Jade ser pega beijando Lucas. Eu gostaria muito de ler essa passagem mencionada pelo personagem, tido como o mais sábio dentre todos existentes na novela. Qual será a sura? Em qual ayah isso está escrito? Será que está registrado apenas no Alcorão particular de Tio Ali?

            O Alcorão é reconhecido até por não muçulmanos como um livro que foi preservado ao longo do tempo, e o que temos hoje em mãos é exatamente igual ao original revelado ao profeta Muhammad (SAWS) entre os anos 610 e 632. Devido a preocupação quanto à preservação do sentido e da literalidade da mensagem, só é considerado Alcorão aquele que está escrito em árabe, língua na qual foi revelado. Existem traduções para praticamente todos os idiomas existentes no mundo, mas essas são denominadas apenas como o significado dos versículos do Alcorão.

Fotos de um exemplar do Alcorão da época do califa Othman Ibin Afán (RAA), preservado em um museu no Cairo, Egito. Se compararmos cada frase dele com qualquer Alcorão em árabe existente hoje, veremos que não há mudança alguma.

        Ou seja, não há possibilidade de existir mais de uma versão do Alcorão. Logo, o Alcorão do Tio Ali é igual ao meu e ao de qualquer muçulmano. E não existe NENHUMA ayah, NENHUMA sura, NENHUM hadith (dito) do profeta que diga que a mulher deva ser trancafiada em um quarto até a morte, em NENHUMA situação. Talvez seja uma alucinação ou invenção de Tio Ali para se impor em sua casa, mas de modo algum é algo defendido pela religião islâmica. E como diz o profeta Muhammad: “Aquele que me imputar algo que não veio de mim, que prepare o seu lugar no inferno”.  Se cuida, Tio Ali, do contrário o senhor é que será castigado, caso não se arrependa!

Capítulo 3 (Dia 12/01/2011) – O casamento é um negócio?

Sempre que em um mesmo capítulo houver 2 ou mais temas a serem abordados, faremos isso em tópicos, para melhor organização das ideias. Vamos aos assuntos do capítulo de hoje.

Casamento arranjado – O casamento proveniente de acordos entre famílias é algo que sempre existiu em muitos locais e em diferentes culturas. Logo, é algo muito anterior à revelação do Islam em sua forma final, no século VII. A religião islâmica, ao contrário, trouxe um verdadeiro código de vida a ser seguido pelo homem, para que ele tenha sucesso nesta vida e na outra. E dentre os princípios para a realização do casamento está o de que tanto o noivo quanto a noiva devem aceitar a sua realização. Ou seja, ninguém pode casar com ninguém obrigado, muito menos sem conhecer a pessoa antes, apenas para atender uma determinação da família ou de quem quer que seja.
            No capítulo de hoje, Tio Ali trata com o personagem Abdul sobre o casamento de Said com Latifa, o que posteriormente se torna inviável, pois descobre-se que ambos tiveram a mesma ama de leite e, portanto, são considerados irmãos. Mas logo as famílias resolvem o problema: Latifa se casaria com Mohamed, irmão de Said! Latifa não conhecia nenhum dos dois, e foi convencida a casar pela vontade de sua família, primeiro com Said, e depois, diante da impossibilidade, com Mohamed.
            Certa vez veio uma mulher para o profeta Muhammad (SAWS) e disse que seu pai a obrigou a casar com um primo seu. O profeta disse que então o casamento poderia ser desfeito, e perguntou se a mulher queria se divorciar. Ela disse que não, que aceitaria a vontade de seu pai, mas que gostaria que ficasse registrado o seu caso, para que as muçulmanas soubessem que não podem se casar obrigadas.
Ou seja, de acordo com as bases islâmicas, é necessário que as pessoas se conheçam bem antes de tomarem a decisão de se casar, por decisão própria. A família pode até sugerir pretendentes para seus filhos, mas jamais impor um casamento, como acontece em O Clone. E muito menos fazer do matrimônio um verdadeiro comércio através do dote, como também vemos na novela.

Mulher como mercadoria – O dote, que dentro da religião na verdade se chama mahar, é um presente de casamento que o noivo dá à noiva em sinal de carinho e respeito, e é a noiva que escolhe o que deseja ganhar. Ou seja, o dote não vai para a família, e não necessariamente precisa ser dinheiro vivo ou ouro, como é alardeado na novela. Nem é necessário ser algo material, inclusive o profeta Muhammad (SAWS) aconselhou que o mahar seja o menor possível, ligando isso ao sucesso do casamento.
O homem pode dar como mahar um objeto de valor simbólico, um Alcorão, a recitação e o ensino de algumas suras, etc., lembrando que a mulher é quem deve escolher o presente, atentando, é claro, para as condições do noivo. Assim sendo, jamais o mahar pode ser interpretado como a compra da mulher. Não existe pedir um dote maior ou menor em função do valor da mulher, pois o ser humano não tem preço.

Capítulo 2 (Dia 11/01/2011) – Jade usa talismã e crê em várias vidas

Esse post irá mostrar que o intuito deste blog não é apenas explicar temas abordados na novela que difamam o Islam, mas sim corrigir erros crassos em relação à própria crença islâmica. Isso até certo ponto nos alivia, pois nos dá a certeza que O Clone pode estar se referindo a qualquer religião, menos ao Islam.
            Jade mostra ao mocinho Lucas uma joia que usa como amuleto, pois sua mãe dizia que tal pedra a tinha salvado da queda de um raio quando ela estava grávida dela. Sua mãe lhe deu essa turquesa, chamada de pedra Jade, e disse para usá-lo como proteção. Em outra cena, Zoraide diz que essa pedra afasta mal olhado.
Esse tipo de prática configura um pecado gravíssimo dentro do Islam, que é atribuir a outro, que não Deus, a responsabilidade pela sua segurança ou pelo acontecer ou não acontecer de determinado fato. Na visão islâmica, isso é considerado uma das formas do politeísmo (shirk), que é o mais grave pecado dentro do Islam, uma religião essencialmente monoteísta. Um muçulmano de verdade jamais usa qualquer tipo de objeto como talismã.
            Como se não bastasse, em meio às lindas declarações mútuas de amor entre Jade e Lucas, ela lhe diz que sente como se o conhecesse há muito tempo, e ele pergunta se ela acredita em outras vidas. Ela responde de bate-pronto: “Claro que sim, já vivemos muitas vidas!”. Vou até fazer um parêntese aqui para que eu possa respirar, diante de tal informação descabida em relação ao Islam. (Jade diz que não poderia se casar com alguém que nunca viu, ou que mal conhece, o que concordamos, até porque não é isso que o Islam diz. Mas como então ela se apaixona PERDIDAMENTE por um homem que conheceu no dia anterior a todas essas declarações de amor? Será mesmo coisa de outra vida? Aiai...)
          Voltando ao assunto: o Islam não admite a existência de muitas vidas, tampouco de reencarnação. Não há nenhuma ayah (frase do Alcorão) e nenhum dito do profeta que faça referência a isso, muito pelo contrário, as informações que temos repetidas vezes nos textos islâmicos é que temos que viver esta única vida de maneira a adorar a Deus, seguindo seus princípios, para que no Dia do Juízo Final, quando formos ressuscitados para prestarmos contas de todas as nossas ações, possamos ser recompensados com o paraíso e absolvidos do castigo do inferno. Assim sendo, um muçulmano jamais diria que “já viveu várias vidas”, pois é algo que vai totalmente contra a crença islâmica. Logo, não acreditamos em reencarnação, mas na ressuscitação para a prestação de contas no Dia do Juízo Final.

Capítulo 1 (Dia 10/01/2011) – Não chore pelos mortos!

Não existe a proibição de se chorar a morte de uma pessoa. O Islam não encara esse ato como uma possível afronta a Deus ou não aceitação de Sua vontade – como foi explicado pela personagem Zoraide à Jade, que sofria pela morte de sua mãe –, mas sim como uma reação natural, e na maioria das vezes inevitável, quando da perda de um ente querido.
Na época do profeta Muhammad (SAWS), quando uma pessoa abastada morria, era comum sua família contratar carpideiras, que eram mulheres pagas para chorar desesperadamente no enterro, para ostentar o sofrimento pela morte de alguém com tal prestígio. Essa prática ignorante, e somente essa, foi proibida pelo profeta, por ter se criado um comércio desnecessário às custas da morte de uma pessoa. Essa não é a postura correta do muçulmano, que diante da perda de um ente querido se entristece, chora, mas não se desespera, por ter a ciência de que este é um desígnio de Deus com o qual todos nós iremos nos deparar um dia. 
De fato cremos que tudo acontece de acordo com a vontade de Deus, mas isso não significa que não possamos sentir e expressar tristeza em determinadas situações. E nos casos de falecimento, o Islam recomenda que a pessoa seja paciente, peça a Deus que reserve o paraíso para aquela pessoa que se foi e suplique a Deus que lhe ajude a superar aquele momento difícil.